Inicialmente, há duas décadas, a Quadra Metropolitana foi pensada
para a Metrópole paulista, entretanto, hoje, certamente se aplica a todas as
cidades em processo de necessário crescimento vertical. Vale ressaltar que esta
proposta não está atrelada as premissas atuais contidas no novo Plano Diretor
para a cidade de São Paulo, pois este se apoia em adensamentos vinculados a
corredores de transporte e tradicionais lotes urbanos.
Proposta:
O equilíbrio do ambiente construído da maioria das
metrópoles contemporâneas, desde o século XIX, a partir da revolução industrial
e da eclosão demográfica, está comprometido.
Hoje as cidades crescem verticalmente no território
original de seu uso horizontal, reservando os caminhos da acessibilidade em sua
maior extensão ao veiculo individual. As ruas precisam ser alteradas à
circulação de coletivos e suas quadras urbanas requerem verticalização.
A estrutura de nossas
cidades tem na quadra, repartida em lotes, seu elemento “DNA”. A ocupação
desordenada da cidade de São Paulo no processo de metropolização, desenha uma
paisagem desoladora para seus habitantes e cria situações de difícil controle
em termos administrativos, com o mal aproveitamento das áreas centrais com infraestrutura
completa instalada e com proliferação de bairros, ocupações desordenadas em seu
perímetro, com os custos do transporte de milhões de pessoas que nela circulam
todos os dias. Resulta no aumento exponencial dos custos de urbanização.
Há tempo, formulamos proposta de "Quadra
Metropolitana": uma verticalização de edifício único, sob potencial
construtivo compensatório a todas edificações horizontais herdadas nos módulos
de quadras urbanas. Garante-se assim a substituição de lotes urbanos por “lote
único”. Atende-se de forma urbanística coerente as necessidades urbanísticas de
interesses sociais, públicos e privados.
A proposta que
apresentamos tem por principio o caráter regenerador de estancar este movimento
que corrompe e enfeia a cidade e contribui para uma discussão critica sobre a
revisão do uso da quadra urbana, com reorganização fundiária. Quadra urbana
edificada com residência, sobrados e prédios, “amarrados” a lotes e legislações
de recuo, resultam em sua maioria em “ambientes” caóticos, insalubres e
poluídos. Para tanto é necessário recorrer a algumas premissas básicas como a
indispensável contribuição de propostas especificas, intervenções pontuais, por
bairro, por quarteirão, por quadra sem prejuízo dos planos globais; um
direcionamento de leitura da cidade. O enfoque que se propõe para a análise
dessas premissas é que a recuperação do espaço urbano local, pelo redesenho do
uso das quadras, é o processo necessário para a valorização da qualidade
ambiental, através dos referenciais de identificação espacial que criam
ampliando (e mesmo fazendo surgir, se inexistente) um conceito, um sentido de
comunidade, essências, para formação de uma visão mais consciente e
participativa das pessoas que ali convive.
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A transformação básica das quadras é sua verticalização radical,
com a plena concordância dos proprietários dos lotes que a constituem,
convencidos dos benefícios comuns a todos, eles e a cidade, que tal operação
encerra. Deverá constituir-se em modelo de uma nova “cidade urbana”, a quadra,
em detrimento do lote convencional, numa crítica a uma estrutura fundiária que
tornou-se incompatível com o estabelecimento de padrões urbanos que atendam ao
ritmo do crescimento atual, em qualquer dos enfoques de necessidades que se
queira tomar e em especial, o meio ambiente.
A possibilidade de uma
nova forma de articulação do espaço urbano, com modelos pensados a partir da
quadra e não do lote, deverá se ajustar gradativamente a legislação de uso do
solo existente, através de compensações de índices urbanísticos que venham a
possibilitar a formação de grandes edifícios estendendo-se os valores de
“parceria” pública para dentro da quadra, com destinação voltada para usos
diversificados. Adensamento vertical orientado que contempla:
habitações e serviços conjugados; áreas verdes de permeabilidade do solo,
passeios extensivos aos habituais; ambiente construído sustentável que garante
vazios significativos entre edifícios.
Esse desenho urbano
revigorado abre espaço para um novo modelo de arquitetura, de expressão tanto
mais forte quanto mais compatível à paisagem ao redor, harmonizando-se com as
áreas verdes resultantes dos enxugamento das antigas edificações, e que
representam uma nova direção, essencial, para a relação entre a cidade e seus
habitantes.
A responsabilidade dos
arquitetos e urbanistas nunca foi tão exigida no momento em que as cidades – e
a nossa em especial – parecem desumanizar-se de forma irreversível.
Exercício em
desenhos e cálculos anexos simulam o conceito acima. Três quadras urbanas entre
a Av. Rebouças e Rua dos Pinheiros, uma quadra sob recente implantação de
Estação de METRO, em edifício descontextualizado até sem recuo frontal (ver:
nadirmezerani.blogspot.com), e outra que recompõe Quadra Metropolitana nas
edificações horizontais existentes. A simulação resulta composição de Quadras
com extenso “vazio urbanizado” em ambiente equilibrado na transição à Zona 1
dos Jardins, faceando o outro lado da Av. Rebouças.
Desenhos de três Quadras implantadas
no modelo eletrônico do Google materializam o projeto e seus diferentes
ambientes.
Arquitetos Nadir Mezerani e Celso Franco